Publicada Terça-feira, 03/03/2009
Mutuários
Cerca de 100 mil mutuários não conseguirão quitar casa própria neste ano, prevê Ibedec
Pelo menos 100 mil mutuários do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) chegarão neste ano ao final do contrato de compra da casa própria sem conseguir quitar o imóvel. A estimativa é do Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec).

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Segundo o Ibedec, estão nessa situação mutuários que, em 1989, assinaram contratos de 20 anos de financiamento, mas não têm a cobertura do Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS). Criado pelo extinto Banco Nacional de Habitação (BNH), o FCVS garante a quitação dos saldos devedores remanescentes no fim dos contratos com o SFH.

A diferença na forma de correção das prestações e da dívida, de acordo com o instituto, provocou distorções nos contratos. Enquanto as parcelas foram corrigidas por equivalência salarial (com reajustes que acompanham os aumentos de salários) e aumentaram, em média, 5% ao ano, o saldo devedor foi reajustado pela variação da caderneta de poupança, subindo 15% a cada 12 meses.

O Ibedec alega ainda que houve correções indevidas nos planos econômicos do final dos anos 80 e início da década de 90. Somente no Plano Collor, a organização não-governamental estima que o reajuste nos financiamentos tenha chegado a 43%, o que contribuiu para a existência do saldo devedor ao fim dos contratos.

A aposentada Maria Célia Ribeiro César está nessa situação. Por 20 anos, ela e o marido pagaram as prestações em dia. No entanto, depois da última parcela de R$ 600, em setembro do ano passado, o contrato foi automaticamente prorrogado e a prestação saltou para quase R$ 5,8 mil mensais.

“O saldo devedor do imóvel está em R$ 400 mil. Isso é quase o valor de venda do imóvel, de R$ 450 mil”, diz a aposentada. Sem ter como arcar com a nova prestação, o casal recorreu à Justiça para comprometer no máximo 30% da renda familiar com as parcelas mensais, como determina a lei que rege o SFH.

A Caixa Econômica Federal, que concentra 70% dos financiamentos imobiliários do país, informou que a administração dos contratos sem a cobertura do FCVS assinados até 1994 passou para a Empresa Gestora de Ativos (Emgea). Por meio de comunicado, a Emgea argumenta que há quase quatro anos tem renegociado as dívidas de mutuários que não conseguem quitar o imóvel ao fim do contrato.

De acordo com a empresa, de julho de 2005 até o final de janeiro, mais de 88 mil usuários aderiram a uma das condições de renegociação propostas pela Emgea. O mutuário pode pagar o saldo devedor com prazo correspondente até a metade do contrato original e descontos que podem ser ampliados quanto menor for o número de parcelas do refinanciamento.

A ajuda, no entanto, só vale para quem financiou o imóvel nos bancos públicos. Quem recorreu aos bancos privados para pagar a casa própria não tem o mesmo amparo.

Fonte:Daniel Lima e Wellton Máximo
Repórteres da Agência Brasil