Publicada Terça-feira, 07/04/2009
Entrevista
"Comércio de Teresina está robusto e não precisa demitir"
Em entrevista ao Jornal Meio Norte, edição do dia 05 deste mês, o secretário-geral do Sindicato dos Comerciários de Teresina, Gilberto Paixão, afirmou que o setor lojista e supermercadista do país e em especial da capital do Estado ainda não sentiram os efeitos da crise internacional. O setor, segundo pesquisas, cresceu muito em 2008 e nos primeiros meses de 2009. Confira a entrevista na íntegra:

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Crise financeira mundial? Não para os comerciantes de Teresina. É o que acredita o presidente do Sindicato dos Comerciários de Teresina, Gilberto Paixão.

De acordo com ele, o período de dificuldade financeira está atingindo pouco os empresários da capital piauiense. Paixão afirma que o setor vem conseguindo bons lucros e crescendo desde 2000, estando por isso bastante robusto. Isso é o suficiente para que os em- pregos sejam garantidos, não haja redução salarial e a negociação de reajuste não seja atrapalhada. O sindicalista avisa que as empresas têm obrigação moral de preservar os empregos dos comerciários e afirma que o sindicato não vai aceitar qualquer desculpa para justificar demissões.

 MN – A crise financeira mundial ainda está assustando os comerciários de Teresina?

 Gilberto Paixão – Está sim. E é natural que os trabalhadores fiquem preocupados, pois todo tipo de problema que ocorreu nos últimos 30 anos, quando os projetos neoliberais, os projetos dos grandes empresários capitalistas não deram certo, quem pagou foram os trabalhadores.

 MN – Mas o setor do comércio na capital ainda deve se preocupar com essa situação?

 G.P. - Temos recomendado muita cautela para os empresários, apesar de sabermos que essa crise não irá afetá-los de modo amplo. O setor interno do Brasil não está sofrendo muito ainda, porque temos uma base forte. Na verdade, quando todo mundo estava falando em quebradeira, com as montadoras e os exportadores de grão, por exemplo, o setor do comércio observou um crescimento exponencial, principalmente em janeiro e fevereiro. Ou seja, andamos no sentido contrário.

MN – Qual deve ser a maior preocupação para o setor no momento?

 G.P. - O momento agora é o de estimular e assegurar os empregos, principalmente os daquelas empresas que têm empréstimo e subsídios do governo, porque esse dinheiro é do trabalhador, e deve ser aplicado para manter o emprego.

MN – Mas a crise pode resultar em redução salarial para os comerciários?

G.P. - Não vai acontecer redução do salário, assim como não deve haver demissão. Temos que evitar a demissão da mão-de-obra, porque se isso ocorrer pode haver desqualificação e exploração do trabalhador, que acaba tendo que fazer o dobro de sua tarefa para compensar a perda do outro.

MN – Pode haver dificuldade de negociação no reajuste salarial?

G.P. - Acredito muito que não. No mês de maio vamos ver que isso não vai ocorrer. A Semana Santa está chegando e vamos perceber que o brasileiro, principalmente em Teresina, não recua de jeito nenhum e continua comprando. E esse é um recado que mando para os empresários, que eles não digam que não têm condições de conceder reajuste, de conceder melhores condições para os trabalhadores, porque não vamos aceitar qualquer desculpa do empresariado sobre esse assunto.

MN – Existe um receio dos empregados de que as empresas utilizem esse momento de crise para justificar demissões

G.P. - A população não deve admitir que se utilize essa situação difícil como desculpa para demissões, esse momento políticoeconômico para fazer campanha eleitoral. É preciso haver respeito pelo país e pelos cidadãos. Mesmo havendo queda de arrecadação. Não é possível se aproveitar disso de maneira alguma, porque todos estão sofrendo.

MN – O índice de desemprego observado nos últimos meses não foi grande?

G.P. - O índice pode ter impressionado, mas a verdade é que o setor do comércio sempre teve uma grande rotatividade, que é muito natural. Isso acontece porque as empresas não deixam o trabalhador envelhecer no local de trabalho. Isso, sem contar que esses números são representativos do fim de ano. Quando chega o final do período da movimentação do comércio, no final de dezembro e em janeiro, a gente percebe um aumento nas demissões.

MN – O desemprego então está estável no setor do comércio em Teresina?

G.P. - Não houve crescimento do desemprego. O que houve foi um aumento

nos últimos seis anos do emprego. Em 2003 tínhamos em Teresina cerca de 12 mil comerciários, hoje temos mais de 20 mil. Tínhamos o centro comercial com vários pontos fechados, parecendo cemitério, hoje todos estão em atividade e chegaram empresas de grande porte que vieram contribuir com o crescimento de postos de emprego. Isso aumenta a rotatividade, o que é natural. O índice de desemprego, em janeiro de 2009, quando comparado com o mesmo mês do ano passado, cresceu 0,29%. E em fevereiro, quando esperávamos muito mais, cresceu apenas 1,5%.

MN – Mesmo em pequena proporção, a crise pode afetar a receita das empresas.

G.P. - 99% das empresas de Teresina são robustas, elas lucraram bem nos últimos anos. De 2000 até 2009 nunca houve uma queda acentuada. As vendas cresceram em quase todos os anos. Houve um pequeno re- fluxo, é verdade, mas as vendas no período lucrativo são bem maiores. E no período da crise as vendas subiram até setembro de 2008. Vendeuse em uma escala muito boa com lucros até três vezes maiores que anteriormente. Por isso as empresas estão com um bom caixa, em uma situação confortável.