Publicada Segunda-feira, 22/02/2010
Conquista
Metalúrgicos cutistas de SP conquistam licença remunerada para participar de curso de formação
Através de convenção coletiva assinada durante a Campanha Salarial 2009, os 13 sindicatos de metalúrgicos da CUT no Estado de São Paulo conquistaram um dia de licença remunerada, por ano, para que aproximadamente 200 mil trabalhadores participem de curso de formação sindical. A primeira aula está prevista para março, em São Bernardo do Campo.

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Através de convenção coletiva assinada durante a Campanha Salarial 2009, os 13 sindicatos de metalúrgicos da CUT no Estado de São Paulo conquistaram um dia de licença remunerada, por ano, para que aproximadamente 200 mil trabalhadores participem de curso de formação sindical. A primeira aula está prevista para março, em São Bernardo do Campo.

O curso, que já vem sendo chamado pelos sindicatos de Programa de Formação da Base, vai acontecer na sede das próprias entidades. Apesar de o princípio da licença remunerada já estar garantido, a participação no curso será escolha de cada trabalhador ou trabalhadora. O conteúdo daquele que pode ser considerado o primeiro módulo do curso vai se concentrar no tema convenção coletiva - como se constroem as pautas, como são encaminhadas e negociadas, e a importância de cada trabalhador nas conquistas e consolidação da representação sindical.

 Raquel CamargoPor enquanto, a cláusula de licença remunerada para participar de cursos de formação sindical está valendo para três grupos da base metalúrgica: montadoras (aproximadamente 40 mil trabalhadores), máquinas e eletroeletrônicos (por volta de 50 mil) e autopeças, forjaria e parafusos (onde se estimam 110 mil trabalhadores). Ainda faltam outros três, cuja representação patronal ainda não assinou a convenção.

Neste momento, os sindicatos estão fechando, empresa por empresa, detalhes da participação dos trabalhadores - datas e quantidade de pessoas. A Mercedes-Benz, em São Bernardo, deve ser a primeira a acertar a programação.

Enquanto isso, os componentes das Comissões Sindicais de Empresa (CSE), nome que os metalúrgicos cutistas dão à Organização no Local de Trabalho (OLT), estão passando por um período de preparação, com ajuda das subseções do Dieese que atuam nas entidades sindicais. É pelas CSE's que passa o trabalho de convencer os trabalhadores e trabalhadoras a participar.

As comissões, na verdade, estão na raiz desse projeto. Funcionando como uma espécie de subsede dos sindicatos no interior das empresas, com integrantes eleitos pelos companheiros das fábricas, as comissões têm autonomia e poder político para tratar diretamente com as direções das empresas os assuntos de interesse cotidiano dos funcionários. Esta é vista como a maneira mais aprimorada de aproximar o sindicato da base - e o Programa de Formação da Base tende a ampliar o número e o alcance dessas comissões. No ABC, por exemplo, existem 96 empresas com CSE.

"Nosso objetivo é que cada vez mais os trabalhadores tenham a oportunidade de se qualificar, e que nossa organização sindical fique cada vez mais fortalecida", resume Valmir Marques, o Biro-Biro, presidente da FEM-SP (Federação Estadual dos Metalúrgicos da CUT).

Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, a iniciativa insere-se na luta para que a base se aproprie cada vez mais de seu papel cidadão. "O curso vai ajudar o trabalhador a entender sua relação com a empresa, o que está em jogo além do que o cotidiano permite ver, e investi-lo de mais autonomia na busca por seus direitos".

A meta de consolidar esse programa de formação foi estabelecida em 2003, em resolução aprovada pelo 4º Congresso dos Metalúrgicos do ABC, que tem atuado na proa do projeto. E não deve parar por aí. "Nos permitimos sonhar com a construção de uma faculdade dos trabalhadores", diz Walter Souza, diretor do Sindicato do ABC e coordenador do Programa de Formação da Base. O Sindicato, inclusive, já adquiriu um prédio em São Bernardo, antiga sede de um curso supletivo, onde vai ministrar as aulas.

Enquanto esse prédio está em reforma, a previsão é que a sede da FEM, na capital paulista, receba 400 trabalhadores por mês, em duas turmas semanais. "À medida que o programa evoluir, é possível prever volume de aulas para a maioria dos dias do ano", calcula Souza, considerando também a elaboração de novos conteúdos.