Economia FGTS: saiba quando vale a pena aderir ao saque anual de recursos do Fundo Trabalhador deve avaliar se tem dívida, se quer comprar imóvel ou está sob risco de perder o emprego, entre outros fatores
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A partir de outubro, o trabalhador brasileiro poderá
optar por um novo modelo de saques de recursos do Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço (FGTS), que entrará em vigor no próximo ano: o
saque-aniversário. Será possível sacar a cada ano uma parte dos recursos
depositados no Fundo. Quanto menor o saldo, maior o percentual
disponível para resgate.
Especialistas
avaliam que é preciso cautela antes de optar pelo novo modelo e que a
escolha deve ser definida de acordo com a situação financeira e deve
levar em conta aspectos como o risco de perder o emprego, os planos de
compra da casa própria e o pagamento de dívidas.
Para quem quer investir Especialistas
financeiros destacam que a rentabilidade do FGTS, atualmente de 3% mais
a Taxa Referencial (TR), que está zerada, perde para outras aplicações.
O percentual de rendimento é inferior à inflação registrada em 2018,
que foi de 3,75%.
Até mesmo a tradicional caderneta de poupança
apresenta rendimento superior, de 4,5% ao ano. Se um cotista mantiver
R$ 500 no Fundo por 15 anos, por exemplo, teria R$ 778,98 ao fim do
período. Se aplicar o montante na poupança, terá R$ 964,87, ou seja, R$
185 a mais.
A avaliação do rendimento, porém, não leva em conta
imprevistos que podem surgir, como a perda de emprego, os planos da casa
própria, entre outros objetivos. Se o cotista já conta com uma reserva
financeira, o resgate de recursos representa uma opção mais segura do
que para os que não têm qualquer forma de poupança.
Na avaliação
de Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, o impacto nas
finanças pessoais dos brasileiros tende a ser limitado, pois os limites
de desembolso definidos pelo governo são baixos.
O economista
avalia que, embora haja ganho financeiro com a troca da aplicação, ele
pode não ser significativo. E pondera que as alternativas para aplicar
os recursos podem ser restritas, já que muitos investimentos exigem
valor mínimo superior ao permitido no saque.
Para quem tem dívidas Na
avaliação de Carlos Eduardo Costa, consultor de educação financeira do
Banco Mercantil, o maior problema do FGTS é sua baixa rentabilidade. No
entanto, ele funciona como uma poupança compulsória para o trabalhador.
Por isso, fazer o saque de uma pequena parcela para pagar parte de uma
dívida de juros elevado pode não ser efetivo.
- É como usar um
copo d'água para tentar apagar um incêndio. Nesse caso, é preciso buscar
outra alternativa, como uma renegociação da dívida — disse.
Para
Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor de pesquisas econômicas da
Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), se o saque for
usado para quitar integralmente os débitos pode ser uma boa alternativa.
Para quem teme perder o emprego Com
13 milhões de desempregados no país, especialistas recomendam cautela
para quem avalia que há risco de ficar sem trabalho. Quem opta pelo
saque-aniversário perde o direito de resgatar os recursos nos casos de
demissão sem justa causa, embora tenha acesso à multa de 40%.
O
problema é que quem perde uma vaga costuma demorar a encontrar uma
recolocação. O prazo médio para encontrar uma oportunidade hoje no país
já passa de um ano.
- Posso sacar um valor pequeno para reduzir
alguma dívida ou comprar algo, mas o desemprego está elevado e está mais
difícil conseguir uma realocação. E o brasileiro tem pouca educação
financeira. Corre o risco de fazer algo pensando no presente e, no
futuro, não poderá movimentar esse colchão - disse Carlos Eduardo
Costa.
Miguel Ribeiro de Oliveira também pondera que é preciso
pensar duas vezes neste caso para não enfrentar dificuldades
financeiras:
- Num momento de desemprego elevado e economia
fraca, a possibilidade de perder o emprego é factível. Portanto, se a
pessoa retirou o recurso e perde o emprego pode ficar sem seu colchão de
garantia. Nesse caso, é preciso pensar muito se vale a pena fazer a
retirada.
Compra de imóvel A
criação do novo modelo de saque não afeta as regras para uso de
recursos do FGTS na compra de imóveis. A questão é que optar pelo
saque-aniversário pode se converter num entrave para quem tenta quitar
mais rapidamente as parcelas de um financiamento imobiliário. Hoje, os
recursos do Fundo podem ser usados anualmente para abater as prestações
ou a cada dois anos para reduzir o saldo devedor.
- Sacar no mês
do aniversário vai depender da situação financeira de cada pessoa, mas
não vale a pena sacar um valor pequeno se o recurso pode ter a
destinação de ajudar a pagar o financiamento - disse. Entenda as novas regras A partir do ano que
vem, os trabalhadores ganharão uma nova forma de utilizar os recursos do
FGTS. Eles poderão optar por fazer saques anuais de suas contas na data
do aniversário. O valor a ser retirado vai variar de acordo com o saldo
de cada pessoa.
Serão sete faixas, sendo a primeira para quem
tem até R$ 500 e a última para quem tem mais de R$ 20 mil. Os
percentuais de retirada vão variar de 5% a 50%, conforme a faixa. Além
disso, será permitido retirar uma parcela adicional que pode chegar a R$
2.900, também dependendo do saldo.
Pela nova regra, quem tem
saldo de R$ 500, por exemplo, poderá sacar 50% desse valor. Já quem tem
mais de R$ 20 mil poderá retirar 5%, com uma parcela adicional de R$
2.900.
O governo decidiu ainda liberar um saque emergencial de
R$ 500 do FGTS para todos os trabalhadores ainda este ano e a retirada
da recursos do PIS/Pasep. O cronograma dos saques imediatos do FGTS
começará em setembro deste ano e se estenderá até março do ano que
vem. Até dezembro, devem ser sacados R$ 28 bilhões. Entre janeiro e
março, a expectativa é que mais R$ 12 bilhões sejam retirados.
Já
as retiradas do PIS/Pasep serão autorizadas em agosto. Nesse caso, não
haverá prazo para sacar os recursos. O governo estima que, neste ano,
serão resgatados R$ 2 bilhões.
As medidas fazem parte de um plano
de reestruturação do Fundo de Garantia, que também inclui a
possibilidade de os trabalhadores que optarem pelo saque-aniversário
utilizarem esses recursos como garantia para empréstimos pessoais. O
modelo é similar à antecipação da restituição do Imposto de Renda (IR).
O
pagamento das parcelas do empréstimo em vencimento será descontado
diretamente da conta do trabalhador no fundo, no momento em que for
feita a transferência de recursos do Saque-Aniversário.
A divisão
dos resultados do FGTS também foi modificada. O percentual de
rendimento do Fundo destinado ao cotista foi ampliado de 50% para 100%,
ou seja, os trabalhadores passarão a receber, anualmente, a
integralidade do lucro total obtido.
De acordo com o Ministério
da Economia, as ações, combinadas, têm potencial para gerar, em dez
anos, três milhões de empregos e aumentar o PIB per capita em 2,5
pontos percentuais. As novas regras estão numa medida provisória
(MP) assinada nesta quarta-feira em cerimônia no Palácio do Planalto
pelo presidente Jair Bolsonaro.
O texto entra em vigor imediatamente, mas precisa ser aprovado pelo Congresso para se tornar lei.