Publicada Quarta-Feira, 24/07/2024
GOLPE
Especialistas listam os dez golpes digitais mais comuns e ensinam a se proteger deles
De manipulação amorosa até hacker de WhatsApp, veja lista com recomendações do que fazer para não cair no prejuízo

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Por Camila Araujo — Rio de Janeiro
24/07/2024 04h30  


A tecnologia tem grande potencial de fortalecer a segurança, mas pode também trazer riscos a usuários no dia a dia. Com aparatos e estratégias cada vez mais aprimorados, os crimes cometidos na internet vivem tendência mundial de crescimento. No Brasil, foi registrado um golpe a cada 16 segundos, segundo a edição 2024 do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgada na última semana. Pensando nisso, o EXTRA reuniu uma lista dos dez golpes mais frequentes e as dicas para os internautas se protegerem de cada um deles.

No estado do Rio, os diferentes tipos de estelionato saltaram de 201, em 2015, para 11.485 em 2023, principalmente impulsionados pela tecnologia, apontou o Instituto de Segurança Pública (ISP). A engenhosidade dos criminosos envolve até uma cadeia produtiva do crime. Os fraudadores se dividem em “setores”, a depender do tipo de golpe. No caso dos financeiros, envolvendo instituições bancárias, eles categorizam quem vai fazer o contato com os clientes, o responsável por imitar o aplicativo ou site oficial da empresa, o que invade computadores e celulares, os que lavam o dinheiro, e por aí vai.

— É crime lucrativo e seguro, então acaba tendo um custo-benefício maior para um delinquente do que os crimes físicos, por exemplo, com mais riscos. E tem desde criminosos especializados dentro de quadrilhas organizadas, até um cara isolado com conhecimento de informática. Os golpes bancários chegam a ter segmentos especializados em pessoa física ou jurídica — explica Emilio Simoni, especialista em golpes e fraudes digitais.

Há cerca de cinco anos, segundo Simoni, existe um movimento de quadrilhas que atuavam no tráfico de drogas dos estados do Rio, de Goiás e de São Paulo e migraram para os crimes na internet. Investigações apontaram que muitos dos criminosos já tinham sido presos ou tinham anotações por tráfico de drogas.


Os golpes virtuais são enquadrados no crime de estelionato — o famoso artigo 171 do Código Penal — que ocorre quando um criminoso engana a vítima com o objetivo de obter alguma vantagem, geralmente financeira. O tipo de fraude varia e se atualiza a cada vez que um caso se torna conhecido pela população. Boleto bancário adulterado, falsos avisos bancários, ofertas de trabalho ou negócio com lucros exorbitantes e até um relacionamento amoroso são usados para manipular e roubar os alvos.

 A orientação número um para as pessoas é desconfiar. Algo que chega pela internet e que é muito bom ou que oferece vantagens extravagantes tem chance grande de ser golpe. Não informe dados, confirme com as fontes oficiais. Para as empresas, é preciso ter maturidade nos processos de Tecnologia da Informação, investir em um backup on-line e fora da rede e investir em política de segurança — diz Simoni.

Alguns sinais podem servir de alerta, diz delegado
Em março deste ano, um homem conhecido como “golpista do Tinder” foi preso investigado por estelionato sentimental contra pelo menos 11 mulheres, no Rio e em São Paulo. O acusado fazia empréstimos com as vítimas, que, somados, chegaram a R$ 1,8 milhão. Ele foi solto no dia 24 de maio e está respondendo em liberdade.

 Eles se apresentam como pessoas com independência financeira e negócios promissores. Depois que têm a confiança, inventam algum problema e pedem valores. Quando a vítima percebe que não vai receber de volta, o golpista some — explica Fabio Souza, delegado da 34ª DP (Bangu).

Embora a prevenção seja difícil, alguns sinais podem servir de alerta:

— É complexo porque eles constroem confiança. Mas geralmente não apresentam família e amigos, isolam o relacionamento ou criam parentes falsos. A orientação é nunca emprestar valores que vão fazer falta. Teve vítima que pegou empréstimo de R$ 200 mil e vai ter que pagar.

Por receber diariamente vítimas de golpes virtuais, a unidade tem um policial específico para atender os casos, além de um núcleo de inteligência, afirma o delegado:

— Geralmente é crime praticado sem violência e grave ameaça, então raramente o criminoso fica preso, e só se a vítima quiser prosseguir com a investigação. Muitas não querem por medo ou porque recuperaram alguma quantia.

O empresário Matheus Ramadas, de 29 anos, sofreu outro tipo de golpe: teve a conta do Instagram hackeada. O golpista repostava vídeos antigos nos stories, para forjar uma credibilidade, e depois acrescentava um texto divulgando um esquema de pirâmide de PIX, onde a pessoa depositava um valor e recebia uma quantia maior em troca.

— O texto dizia algo como “amigos, estou ganhando muito dinheiro com isso”. Alguns contatos perguntaram como funcionava, mas horas depois a plataforma bloqueou o contato dele, ninguém chegou a depositar — relata o empresário.

10 golpes digitais para ficar alerta:

Golpe do 0800: Criminosos se passam por bancos para avisar sobre uma falsa transação suspeita e pedem que ela ligue para um número 0800. Para cancelar a operação, a vítima é induzida a fazer uma transação ou fornecer número de conta e senha. Dica: não faça ligações para telefones recebidos por mensagens. Procure os canais oficiais do banco ou fale com seu gerente.

Golpe do romance em aplicativos: a pessoa usa um perfil falso para conhecer a vítima, ganha a confiança dela e, depois, pede dinheiro e oferece esquemas fraudulentos. Dica: Desconfie. Evite dar dados pessoais, pesquise o nome completo e verifique as fotos, marque uma chamada de vídeo e, se marcar encontro, só em local público movimentado.

Golpe do Imposto de Renda: aplicativos falsos se passam por plataformas oficiais do governo e roubam dados pessoais da vítima, para fazer compras ou transações bancárias. Dica: faça o download do aplicativo ou acesse o link direto no site da Receita Federal.

Golpe do boleto: Criminosos alteram o código de barras ou o QR Code do Pix de boletos, que direcionam o dinheiro para contas-laranjas. Dica: Leia o nome do destinatário na hora do pagamento. Se tiver dados de uma pessoa aleatória, e não os da empresa fornecedora, não pague.

Golpe da tarefa: oferta de trabalho on-line em uma empresa de marketing digital para dinheiro rápido e fácil nas redes sociais. O golpista paga valores baixos, mas depois cobra uma quantia para a pessoa participar, com a promessa de que será recuperado — o que não acontece. Dica: A orientação é não fazer transações para garantir um trabalho ou negócio.

Golpe da clonagem no WhatsApp: o criminoso manda mensagem fingindo ser uma empresa em que a vítima tem cadastro e pede um código de segurança já enviado, para atualizar ou confirmar um cadastro. A conta de WhatsApp é replicada e o golpista pede dinheiro aos contatos da pessoa. Dica: Nunca informe o código de segurança do seu WhatsApp. Outra medida é habilitar a “Verificação em duas etapas” no app.

Golpe de engenharia social com WhatsApp: O criminoso pega fotos da vítima em redes sociais, descobre contatos e com um novo número de celular, manda mensagem dizendo precisou trocar de telefone. Em seguida, pede dinheiro dizendo estar em situação de emergência. Dica: Se certifique da mudança e não realize nenhuma transação até falar com a pessoa que está pedindo o dinheiro.

Golpe do phishing: são e-mails ou mensagens de falsos bancos e empresas, que induzem o usuário a clicar em links maliciosos que levam a páginas falsas, onde a pessoa digita senhas e dados pessoais. Dica: Verifique o domínio do e-mail (xx@nomedaempresa), e cheque a informação direto no site ou no aplicativo da instituição.
Golpe do saque total do FGTS: Sites falsos anunciam que foi liberado o saque geral do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Um chat bot simula o atendimento oficial e rouba dados das vítimas. Dica: Verifique diretamente com o banco, no site da empresa ou ligue para esclarecer dúvidas.

Golpe do acesso remoto: O criminoso se passa por funcionário de um banco e envia link para a instalação de um aplicativo que vai solucionar um suposto problema. O app é um malware que dará acesso ao celular. Dica: Não instale. O banco nunca solicita a instalação de aplicativo para supostas regularizações na conta.