A médica Ana Coradazzi, especialista em oncologia e cuidados
paliativos, defende que a empatia se torne uma ferramenta terapêutica na hora
de cuidados com os pacientes. Ela é expoente do que chama de “Slow Medicine”.
Ao longo de sua trajetória na área da saúde, desde o início
da faculdade, há mais de 25 anos, a médica percebeu que a verdadeira essência
do cuidado está no olhar atento para a dor do outro. As prescrições são
importantes, mas sozinhas não curam ninguém.
“Agir de forma empática nos poupa tempo, porque melhora
nossa capacidade diagnóstica, reduz a solicitação de exames desnecessários e
aumenta a adesão das pessoas aos tratamentos, resultando em menos insucesso
terapêutico e menos complicações. A empatia é uma ferramenta terapêutica, e não
um luxo opcional”,
Caso na faculdade
Ana é formada na Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho, a UNESP, e líder da equipe de oncologia clínica da Faculdade de
Medicina.
Ainda na graduação, ela passou por um momento que jamais
esqueceria. Na primeira anamnese da carreira, analisou um paciente com
dificuldade para engolir e perda de peso.
Ao fim da investigação Ana estava inquieta, queria saber
logo o diagnóstico do paciente. Depois de uma conversa com o professor, a
resposta veio: câncer.
Anos depois, ela se especializou em oncologia e colocou em
prática um atendimento mais humano.
Empatia para curar
Vista como um luxo por muitos, para Ana a empatia é está
relacionada ao olhar, desde o início do atendimento ao paciente.
Ao prestar atenção genuína no doente, é possível identificar
o cuidado mais acertado e de maior qualidade.
“Lançar mão de um olhar empático faz parte dessa estratégia,
na medida em que nos tornamos mais capazes de identificar as necessidades do
outro com acurácia e oferecer estratégias que estejam alinhadas a essas
necessidades”, defendeu.
Ensino nas faculdades
Para a profissional, é preciso repensar o ensino médico no
país. Segundo ela, a empatia e o acolhimento têm sido deixados de lado nas
faculdades.
“Os médicos aprendem a lidar com doenças, mas não com
humanos doentes. Isso me parece assustador. A relação entre médico e paciente
pode ser terapêutica em muitos níveis, da compreensão do caso até o alívio do
sofrimento, e traz benefícios importantes para o próprio profissional, que
enxerga mais significa em sua profissão”, destacou.
Assim, Ana defende a inclusão de disciplinas que abordem as
humanidades médicas nas graduações e pós graduações.
Com isso, será possível resgatar o sentido da empatia no
exercício da nobre profissão.
Tecnologia pode ajudar
Quando questionada sobre as novas tecnologias na medicina,
como o uso de AI, Ana é categórica: “Acredito que nenhuma tecnologia é boa ou
ruim por si só.”
Para ela, a tecnologia deve ser usada para avançar na parte
técnica.
Assim, os profissionais poderiam dedicar o tempo restante
para o cuidado humano e conseguir uma medicina mais qualitativa.