A Ciência brasileira brilhou mais uma vez! Uma descoberta da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) promete revolucionar o tratamento
de danos na pele. Pesquisadores criaram um gel à base de uma planta nativa do
Brasil que cicatriza feridas até duas vezes mais rápido, em comparação com
métodos tradicionais.
O produto, que já está em fase avançada de testes, tem
mostrado ótimos resultados em pacientes oncológicos com mucosite oral, uma
inflamação dolorosa que surge como efeito colateral da quimioterapia ou
radioterapia. Além de reduzir o tempo de recuperação, a fórmula ajuda a evitar
complicações que podem agravar ainda mais a saúde do paciente.
Feito a partir do extrato da Arrabidaea chica Verlot, também
conhecida como crajiru, o gel é resultado de mais de duas décadas de pesquisa e
já está licenciado para desenvolvimento em escala comercial. A expectativa é
que, em breve, ele chegue ao mercado e beneficie milhares de pessoas.
Da planta ao laboratório
O trabalho começou em 2003, com a coleta de diferentes
variedades da planta em regiões brasileiras. Pesquisadores analisaram as
propriedades químicas e farmacológicas até chegar à padronização do extrato.
A partir daí, foi possível desenvolver um gel mucoadesivo,
capaz de aderir à mucosa e acelerar o processo de cicatrização.
A equipe descobriu que o tratamento com o gel leva, em
média, de dois a cinco dias, enquanto o procedimento convencional com laser
pode se estender por até quinze dias.
Alternativa eficiente
A mucosite oral é um dos maiores desafios no tratamento de
cânceres de cabeça, pescoço e transplantes de medula óssea.
As feridas dificultam a alimentação, aumentam o risco de
infecção e, em muitos casos, podem até comprometer a continuidade da terapia
contra o câncer.
O gel desenvolvido na Unicamp surge como uma alternativa
eficiente e de fácil aplicação. Testes clínicos no Hospital de Clínicas da
Unicamp e na Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (HEMOAM) comprovaram a eficácia.
A coordenadora da pesquisa, professora Mary Ann Foglio, da
Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp, disse que o comitê de
ética já autorizou que todos os pacientes que desenvolverem mucosite após
transplante de medula possam ser tratados exclusivamente com o gel, sem
necessidade de laser.
Próximos passos
Apesar dos resultados positivos, a pesquisa ainda enfrenta
um desafio: encontrar uma forma de conservar o gel em temperatura ambiente.
Atualmente, o extrato precisa ser mantido sob refrigeração devido ao seu alto
poder antioxidante, o que encarece a produção e o transporte.
Se essa barreira for superada, o produto terá condições de
chegar a hospitais e clínicas em diferentes regiões do país com baixo custo,
ampliando o acesso a quem mais precisa.
A tecnologia já foi licenciada para o Instituto
Sociocultural Brasil China (Ibrachina), que ficará responsável por avançar nos
testes e preparar o produto para o mercado.
O acordo foi intermediado pela Agência de Inovação Inova
Unicamp, que tem apoiado a transferência de tecnologias desenvolvidas dentro da
universidade para empresas.
Segundo o pesquisador Li Li Min, da Faculdade de Ciências
Médicas da Unicamp, a expectativa é que a parceria acelere a chegada do gel aos
pacientes.
“Cada dia ganho na recuperação faz toda a diferença na vida
de quem enfrenta um tratamento tão difícil”, lembrou.